Era fim de semana. Levantei-me de manhã, quer dizer, não era bem
manhã era quase meio-dia. Ainda assim fui fazer o pequeno-almoço.
Estava de pé junto à mesa a preparar as torradas e de repente
ouvi um som que me fez viajar para trás no tempo. O inconfundível e estridente
som da gaita de beiços, o amola tesouras estava na rua!
Nem queria acreditar. Fui à janela e lá ia ele a subir a rua
empurrando uma bicicleta.
Morei muitos anos na cidade e quando era pequena, a praceta era
diferente, as pessoas eram diferentes, o quotidiano era diferente. Era toda uma
vida diferente! Como diz a minha mãe.
O amola tesouras passava regularmente por lá, normalmente ao fim
de semana. Lembro-me que não andava de bicicleta, empurrava um carrinho de
madeira com uma roda enorme. Afiava facas, tesouras e arranjava
chapéus-de-chuva. Deixou de ser uma figura habitual. Coisas que acontecem com o
progresso.
Agora moro numa zona marcadamente rural. Há o sapateiro, o
barbeiro, a costureira, a oficina das bicicletas, a sociedade recreativa, ouço
os gansos e os passarinhos, e agora também, o amola tesouras.