Cheguei ao aeroporto cheia de fome e fui direitinha ao
balcão do café. Fiz o meu pedido e como ainda faltavam 20 minutos para a hora,
escolhi uma mesa mesmo à beira do corredor em frente à porta das chegadas. Estrategicamente
sentada porque dava para ver muito bem quem chegava, que na verdade era tudo o
que me interessava nesse momento, coloquei-me de costas para as outras mesas.
Enquanto comia tranquilamente percebi que, atrás de mim, todas
as outras mesas estavam ocupadas por homens. Todos virados no mesmo sentido e
para a mesma parede lateral. Os que chegavam ajeitavam os pequenos sofás e
procuravam lugares no mesmo sentido.
Passavam outros no corredor mesmo à minha frente, abrandavam
e olhavam para a parede atrás de mim. Fixando o olhar por cima da minha cabeça,
como se eu nem sequer estivesse ali sentada.
Foi um desassossego. Escolhi eu um lugar com vista panorâmica
para a chegada e quando percebi indivíduos variados instalavam-se por ali, ficavam
embasbacados e tapavam o meu campo de visão. Passageiros que chegavam, outros
que tal como eu esperavam, funcionários do aeroporto também iam espreitar de
vez em quando. Quando comecei a ouvir as expressões “cooooxo!!!”, “como é que é
possível?!” ou “eeeh, aos 6 minutos já estão a ganhar” virei-me e confirmei a minha
desconfiança…era um jogo de futebol! Ainda assim, depois de perceber a razão
para aquele estado de assombro, inércia e entorpecimento, não deixei de me
assustar quando vi um agente da policia dirigir-se a mim em passos largos e parar
mesmo em frente à minha mesa…quase me saiu “o que é que eu fiz sr. Agente?” mas
a tempo lembrei…a única coisa que fiz foi escolher uma mesa e sentar-me numa
esplanada de um café que oferece aos seus clientes um ecrã gigante em dia de
futebol…nada que me ponha em risco de ser multada, felizmente!