É pena não podermos ser crianças por mais tempo. É pena
porque enquanto crescemos a nossa forma de ver o mundo muda significativamente.
É pena porque deixamos para trás a ingenuidade e a inocência. É pena porque à medida
que nos tornamos adultos ficamos também mais angustiados e pouco tolerantes com
aquilo que não podemos mudar.
Temos medo que o tempo se esgote. Passamos a dramatizar tudo.
Deixamos de passar pelas coisas com o desprendimento que elas merecem. Ser
adulto é, demasiadas vezes, viver motivado pela busca inglória da organização
do nosso dia-a-dia. Se o momento é complicado desejamos que passe depressa, se
o momento é bom quem nos dera que nunca acabe.
As crianças não são assim. Vivem tudo da mesma maneira. Sem
angustia, sem ansiedade, sem pressa. As crianças só reparam no lado bom da vida
e desarmam-nos muitas vezes com a sua simplicidade.
Uma família que me é muito querida mudou de casa. A confusão
estava instalada. Caixotes a monte, sacos por todo o lado, móveis para montar. A
primeira noite na casa nova foi, como seria de esperar por qualquer adulto que
se preze, um caos! Estava tudo fora do sitio, parecia que tinha passado um furação
por aqueles lados. Era difícil manter a calma porque estava tudo desarrumado. A
mais nova, que está perto de completar 3 anos, acordou no dia seguinte, chegou
à sala e disse: “ooh a sala está tãããooo lindaaaa!”.
As crianças são assim, para elas o mundo é um grande balão
colorido e feliz. Olham sempre para bom da vida.
No meu caso, como é óbvio e até compreensível, a minha condição de adulta obriga-me a ter
demasiados momentos de verdadeira responsabilidade e ansiedade, vai daí que,
sempre que posso aproveito e deixo a minha criança interior tomar os comandos da
situação e vingo-me. Brinco com a minha sobrinha de 2 anos e meio de tal forma
que fico sempre com a sensação que ela acha que eu também sou uma criança e que
apenas nos distingue o facto de eu ser bem mais alta do que ela e que isso é
bom porque assim consigo chegar com muito mais facilidade às prateleiras dos
brinquedos.
Sem comentários:
Enviar um comentário