terça-feira, 5 de abril de 2011

O Lobo

Fui ver os lobos ao Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, na Malveira. Com esta visita relembrei algumas histórias da infância e pus-me a reflectir...




Este animal faz parte do nosso imaginário e quando pensamos nele, a associação é quase imediata ao capuchinho vermelho e à sua avozinha que, segundo a história, foram gulosamente devoradas por um lobo muito mau e esfomeado que vivia na floresta.
Como acho que as histórias infantis que se contam, são responsáveis pelo preconceito instituído e fazem a negativa apologia do "Lobo Mau" em que todos as outras criaturas são apenas vitimas inocentes, proponho-me a fazer uma curtíssima análise a algumas dessas histórias de forma a desmistificar essa má e injusta fama. 
Os lobos, que não sendo inocentes, são apenas parte de um todo na história:

1. O capuchinho vermelho – Nesta história, talvez a mais conhecida de todas, registo a preocupação em ensinar às meninas que devem ser discretas. 
Vestir-se de forma arrojada, cores garridas, exibir alegria e felicidade e ter coragem para se aventurar por caminhos desconhecidos, é muito perigoso! 
Minha amigas, confessem lá…conforme vamos crescendo, e o tempo vai passando, vamos deixando de acreditar nestas histórias, e estas situações de perigo em que as raparigas se colocam de forma inadvertida enquanto jovens adolescentes, passam a ser descaradamente propositadas. É então que, algumas raparigas mais crescidas pensam “e se eu vestir uma roupa especial, me arranjar, puser um perfume, um sorriso e for sair?”
Conclusão: lá se perdem na floresta, na expectativa de ser encontradas por um lobo conversador e guloso…o final da história toda a gente sabe!


2. O lobo e os 7 cabritinhos – Só tenho algumas perguntas a fazer. Primeiro, como é que uma mãe responsável pensa em deixar sozinhos em casa 7 filhotes curiosos? Porque é que a mãe não os deixou em casa da avó? E o pai dos cabritinhos, onde estava? A trabalhar? a ver a bola no café ? ou será que a cabra era mãe solteira?
Nesta história a salvação das crianças e da mãe incauta foi ter uma cria esperta, atenta e um relógio com pêndulo num móvel na sala. Deixar crianças pequenas sozinhas nunca é uma solução mas sim um problema!
No fim a culpa foi toda do lobo!

3. Os 3 porquinhos – Aqui está mais uma injustiça. Dois dos porquinhos eram preguiçosos, não estavam para se cansar e pensar muito. Trabalhar era aborrecido e roubava tempo para o lazer. Vá que na família, havia um irmão porco que era mais consciente e se preveniu contra as dificuldades e intempéries. Não se deixou levar pela preguiça, investiu em material, perdeu tempo a trabalhar e no final ainda salvou os inúteis dos 2 irmãos de serem comidos pelo lobo, albergando-os na sua sólida casa.

Conclusão:
Os lobos não são fofinhos e inocentes, mas vendo bem as coisas, a capuchinho vermelho também foi demasiado despreocupada, a mãe cabra foi irresponsável e os 3 porquinhos foram preguiçosos.
Terminando sem brincadeira, resta dizer que o lobo têm o seu papel no ecossistema, e esse papel não é comer crianças, idosos e dizimar rebanhos, ah! e muito menos perseguir porcos e demolir habitações.
Não são monstros horríveis e ajudam a manter o equilíbrio das espécies cinegéticas. É preciso sensibilizar as pessoas e criar condições para que o lobo ibérico possa continuar a existir em liberdade em Portugal.

Aconselho fortemente uma visita ao CRLI na Malveira (Gradil).
O espaço é muito bem cuidado, a paisagem é muito bonita e o acolhimento é 5 estrelas. Claro que o mais importante de tudo é poder avistar alguns exemplares do "Canis lupus signatus" ou Lobo Ibérico e aprender coisas importantes sobre a espécie.
É a melhor forma de tirar todas as dúvidas e começar a pensar nas coisas sobre outro ponto de vista.

Mais informações em http://lobo.fc.ul.pt/

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