segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Heróis

Hoje de manhã tivemos a noticia da morte do músico David Bowie. tinha 69 anos e lançou o último álbum na semana passada. O homem é um símbolo de uma geração. Era excêntrico, cortava o cabelo de forma arrojada, pintava-o de cor fortes. Havia uma certa ambiguidade na sua sexualidade, tinha um olho de cada cor, mudou inúmeras vezes ao longo da carreira e a sua música também. Ninguém ficava indiferente à sua irreverência e ao seu talento. Era brilhante.

Muita gente vai dizer "Isto é que é boa música", " não há música como antigamente", "no meu tempo é que se fazia boa música". Reacções compreensíveis, aliás ouvia-as muitas vezes dos meus tios mais velhos e dos meus pais e de vez em quando ainda ouço. Por exemplo, quando morreu o Francisco José, o Tony de Matos, a Amália...os cantores que os meus tios ouviam na rádio (era o que havia meus caros, não esquecer que nos anos 30, 40, 50 mal se ouvia rádio quanto mais pensar em TV, ah...e Internet era coisa de ficção cientifica) ou quando desapareceram os Beatles, quando morreu o Elvis, o Scott Mckenzie, o Freddie Mercury ou o António Variações.

Parece-me que o padrão aqui é o de termos que lidar com o facto de ter desaparecido mais uma referência, estarmos a ficar mais velhos e de que as coisas mudam (para melhor ou pior depende da expectativa de cada um) e é apenas isso. Acabei por me lembrar de uma música de 1979 Video killed the radio star dos Buggles. É tudo uma questão de mudança, de dinâmica social. Mal tivemos tempo para dizer CD killed the video star quando avançamos logo para outro nível MP3 killed the CD Star. No tempo em que o David Bowie apareceu fazia-se a música que se queria, aliás fazia-se tudo o que se podia e o lema sexo, drogas e rock n'roll não é nenhum mito. Foi a libertação, vai daí era a loucura e quem podia fazia a musica (e não só) que queria. Depois, os anos 80 e 90 foram um bocadinho diferentes, muitas bandas ou cantores que se lançaram com um grande sucesso e depois...puf...já ninguém quis saber deles.

Agora os adolescentes não são melhores nem piores do que os que ouviam David Bowie. As músicas que gostam de ouvir hoje também não. Vou dizer que são, vá...diferentes. Diferentes tal como a sociedade em que crescem hoje, só isso! Ele é a Internet, os smartphones, as redes sociais, o consumismo e a necessidade de ter sucesso e gerar milhões...money makes the world go round. Resta-nos aceitar as novidades, aprender com elas, e continuar ouvir a música do nosso tempo para manter a ligação e as referências, e "sorrir e acenar, sorrir e acenar" como os pinguins do filme de animação Madagáscar.

Hoje há uma geração particularmente triste, e é a minha geração. Não é a geração do CD, nem a do smartphone. É a geração do vinil. E na verdade acho que o pior de tudo nem foi a noticia triste. O que custa mesmo é percebermos que estamos a ficar mais crescidos, que os nosso ídolos estão a desaparecer, que vamos perdendo as referências e que estamos a ser ultrapassados. O pior é lidar com o facto de estarmos cada vez mais longe do século XX.

Sinceramente, hoje estou triste porque morreu uma pessoa cuja música faz parte da minha adolescência. Mas ao mesmo tempo estou contente porque hoje descobri músicas que não conhecia. Contente porque tenho Internet e pude ouvir 2 álbuns seguidos. Contente porque a minha filha, que é uma jovem no principio da adolescência, conhece o David Bowie, embora naturalmente goste mesmo bué dos ídolos que fazem parte da cena actual. Contente porque hoje a banda sonora do dia foi o álbum Diamond Dogs e estou a ouvir agora o Hunky Dory. Bem vista as coisas, há que dizer com frontalidade...boa musica é a dos anos 70!!!



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